sábado, 31 de março de 2007

Flores do Bem - Baudelaire

Charles Baudelaire

[1821 – 1867] França.

Soyez béni, mon Dieu, qui donnez la souffrance
Comme um divin remède à nos impuretés,
Et comme la meilleure at la plus pure essence
Qui prépare les forts aux saintes voluptés !

Bendito vós, meu Deus, que dais o sofrimento
Como um divino remédio às nossas impurezas,
E como a melhor e a mais pura essência
Que prepara os fortes às santas volúpias.

Nise Magalhães da Silveira

[1905 – 1999]

Jung dá máximo de valor à função criadora de imagens. Na sua
psicoterapia, desenho e pintura são considerados fatores que podem contribuir para o processo de auto-evolução do ser.
Quando o neurótico já está em condições de sair do estado mais ou menos passivo de dependência das interpretações do analista, Jung o induz à ação – isto é, pede-lhe que desenhe ou pinte as imagens de sonho que mais o impressionaram. Não se trata de fazer arte – trata –se, na expressão de Jung, de “produzir uma eficácia viva sobre o próprio individuo”. “Dar forma material à imagem interna obriga a considerar atentamente cada uma de suas partes que poderão deste modo desenvolver toda a sua força evocadora”. Correntemente, a pessoa detém-se sobre as imagens de seus sonhos apenas durante a sessão analítica. Logo depois é absorvida no tumulto cotidiano. As imagens esvaem-se. Outra coisa será tentar captá-las sobre o papel, lutando com pincéis e cores e tanto melhor quanto for o esforço e tempo dedicado a este trabalho. O indivíduo necessitará cada vez menos de seu analista. Descobre-se, por sua própria experiência, que a formação de uma imagem simbólica libera-o de uma condição de sofrimento e o ajuda a galgar outro nível de consciência, torna-se independente por auto criação, isto é, dando forma a suas imagens internas ele se modela simultaneamente a si mesmo.
O que acaba de ser dito refere-se a neuróticos e a todos aqueles que buscam o desenvolvimento de sua personalidade, a própria individuação.

Revista do Grupo de Estudos C.G. Jung
Quaternio , 1973, págs. 131 e 132.

sexta-feira, 30 de março de 2007

Flores do Bem - Oração ao Deus Desconhecido - Nietzsche

Oração ao Deus Desconhecido

Friedrich Nietzsche
[1844 – 1900] Alemanha

Antes de prosseguir em meus caminhos e lançar o meu olhar
para a frente uma vez mais, elevo, só, minhas mãos a Ti
na direção de quem eu fujo.

A Ti, das profundezas de meu coração, tenho dedicado altares
festivos para que, em cada momento, Tua voz me pudesse chamar.

Sobre estes altares estão gravados em fogo estas palavras:
“Ao Deus Desconhecido”.

Seu, sou eu, embora até o presente tenha me associado aos sacrílegos.
Seu, sou eu, não obstante os laços que me puxam para o abismo.

Mesmo querendo fugir, sinto-me forçado a serví-Lo.
Eu quero te conhecer, desconhecido.

Tu, que me penetras a alma e, qual turbilhão, invades a minha vida.
Tu, o incompreensível, mas meu semelhante, quero Te conhecer,
quero servir só a Ti.

[tradução de Leonardo Boff /
Gebete der Menschheit. Religiöse Zeugnisse aller Zeiten und Vöolker].
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quarta-feira, 28 de março de 2007

Ode aos Animais

Ode aos Animais

Gato ou qualquer animal
doente, requer atenções e cuidados,
pode transmitir doenças.
Sadio, requer atenções e cuidados,
pode transmitir companheirismo e sabedoria.

Os animais, diferentes dos seres humanos,
não se acham mais inteligentes
nem melhores do que os outros.
Não fazem jogos de poder
ou controle sobre outros animais.
Não são invejosos, donos da verdade,
sarcásticos ou maledicentes.
Não falam mal da vida alheia.
Nem são arrogantes,
Nem sofrem de orgulho ou de soberba.
Não acumulam bens materiais,
desconhecem estes tipos de apego.
Nada ostentam.
Buscam alimento para saciar a fome
e abrigo para dormir.
O amor é vivido instintivamente
com beleza e dignidade.
Procriam, cuidam da prole
e a deixam livre diante da Natureza.
Os animais vivem a vida
transmitindo sabedoria.
São mestres da retidão.

MPF / 2004

segunda-feira, 26 de março de 2007

Hokusai - Japão

Hokusai [1879 - 1940 ] Japão
"Desde os meus 6 anos senti o impulso de desenhar as formas das coisas. Aos 50, expus uma coleção de desenhos; nada do que executara antes dos 70 me satisfaz. Só aos 73 pude intuir, aproximadamente, embora, a verdadeira forma e natureza das aves, peixes e plantas. Por conseguinte, aos 80 anos terei feito grandes progressos; aos 90 terei penetrado a essência de todas as coisas. Aos 100, terei seguramente subido a um estado mais alto, indescritível e, se chego a 110 anos, tudo, cada ponto e cada linha , viverá. Convido aos que forem viver tanto como eu a verificar se cumpro essas promessas. Escrevo com a idade de 75 anos, por mim, antes Hokusai, agora chamado Hoakivo-Royi, o velho enloquecido pelo desenho".

domingo, 25 de março de 2007

O saber Astrológico

      A humanidade perdida, sem direção, nas rédeas da ideologia cartesiana, vê-se perplexa. A redescoberta do conhecimento hermético pode mostrar a saída.

Martha Pires Ferreira *
     
    A Astrologia quer queiram ou não, retoma espaço significativo nos meios de comunicação, com um vigor e uma ousadia que não eram esperados pelos meios acadêmicos bem comportados.
     Ela explode nos seus mais variados níveis, desde o que há de mais ingênuo ou enganador, até no que existe de mais elaborado e requintado, onde a analisa combinatória, analógica e simbólica se interagem, em sincronia, numa visão de totalidade. A Astrologia aparece exatamente no momento em que a ciência chega ao topo e não sabe o que fazer com sua tão articulada onipotência – esvaziada do significado mitológico, inerente à vida, a tudo o que nos cerca e nos envolve. O saber astrológico ressurge com o seu sutil processo capaz de analisar potencialidade prescritas em configurações celestes e dar significado essencial à nossa individualidade em correlação íntima  com Todo – nosso papel fundamental na sociedade.
     O sábio-astrólogo jamais pretendeu ir além dos limites da linguagem simbólica desenhada nos céus estrelados. Ao que se sabe, desde a Antiguidade ele apenas agia como intérprete, ao apontar os caminhos dos mistérios da criação – decifrava o que estava gravado em cada instante dos acontecimentos terrestres. Acompanhando os fluxos planetários, orientava na agricultura, na procriação, nos destinas das nações em tempos de guerra ou de paz. Propiciava a harmonia dos povos. Procurava fazer entender o quanto é necessário se viver de acordo com a Ordem do Cosmo – a Lei da Felicidade. Cosmo e Polis eram apreendidos como Unicidade absoluta, coesa, indivisível. Céu e terra faziam parte de uma só realidade.
        A Astrologia que se conhece hoje tem suas origens na Mesopotâmia – Suméria, Assíria, Babilônia e Caldeia e Suméria. A Babilônia, classicamente, divide com o Egito o privilégio das origens astrológicas. A velha China, Tibet e Índia, a Pérsia, hebreus, incas, maias, astecas, Grécia e Roma são civilizações que profundamente mergulharam, sem divisões, no saber da matemática, astrologia, artes e astronomia – a base do conhecimento científico.
      A teoria do pensamento tem suas origens no pensar astrológico ou o pensar astrológico faz parte do pensamento em suas origens – o que é a mesma coisa.
      No seu percurso histórico, a Astrologia perpassou por níveis de compreensão. Aqui e ali, em especial em Roma, extraviou-se de seu significado maior, a serviço do autoconhecimento e da sociedade. Caiu na vulgaridade individualista, tornou-se supersticiosa, adivinhatória, charlatã. Isso não é razão para descréditos fáceis. Em seu bojo, manteve-se fiel aos seus cânones. O academicismo científico (e religioso, uma outra questão) também se perdeu em suas diretrizes a serviço da verdade e da humanidade. Há 300 anos, a  Ciência tornou-se oficial, mandatária do saber. Rechaçou a Astrologia, e, em m\nome da cultura, tomou a cátedra em suas próprias mãos, certa de que poderia controlar tudo. Hoje, cansada de tanto mecanicismo, sufocada sem poder sonhar ou sorrir não consegue resolver problemas básicos para o bem comum. Teme a fome e a miséria exterior, mais que a interior.
     A humanidade perdida, sem direção, nas rédeas da ideologia cartesiana, vê-se perplexa; algo de equívoco em sua gloriosa malfadada trajetória. Seria interessante, agora nos “pós modernos”, de que tanto se fala e se congrega chamarmos os grandes senhores, pais da ciência. Acordarmos Aristóteles e outros para sabermos onde eles se colocam diante da dicotomia entre a lógica-razão e a analógica-intuição. Como eles apreendem, neste fim de Era, o interesse pela redescoberta da mitologia, saberes esotéricos, herméticos, simbólicos e místicos, matrizes arqueológicas da consciência de todos os povos. Interessante vermos estes sábios-homens defrontarem-se diante do mundo atual que, se de um lado está dilacerado e ferido, do outro é sedento de união entre a razão e a sã loucura, precisão e mistério, ciência e fé.
O saber astrológico é o resgate de nossa identidade diante do Universo.
- *  astróloga e artista plástica.

[ Revista Rio Capital julho 1993 ]