segunda-feira, 30 de abril de 2012

Mandala

Busca da totalidade
desenho meu, martha pires ferreira
Mandala - bico de pena /nanquin, 2011

sábado, 28 de abril de 2012

Paradoxo

Inscrição no poço do Templo Zen Ryoan-Ji. Kioto
Estou aprendendo a ficar contente com tudo
Sim, é possível que, com a vivência da idade, caminhando tranquila nos meus 73 anos, eu esteja aprendendo a ficar contente com quase tudo. Digo quase porque é impossível ficar contente e feliz com a miséria reinante no mundo. A miséria é a prova da incapacidade do ser humano de ser grande, evoluído. Somos como espécie, atávicos e insignificantes, incapazes de real solidariedade entre povos e nações. É deplorável fingir que nada sabemos por que nada podemos fazer.
A foto desta família da Etiópia me impressionou tanto que só tenho é ser consciente do abandono humano e social, me identificar com os mais excluídos e banidos. Esta foto de revista eu a tenho bem visível em minha casa, há muitos anos, para não ousar qualquer lamento pessoal. Reaprender sempre. Não me lembro de como veio parar em minhas mãos.
Paradoxo: ficar contente com tudo é um exercício que se adquire com o tempo, mas impossível viver sem estar perplexa e ferida diante do abandono do outro, meu igual.

domingo, 22 de abril de 2012

Idade Média versus Idade Contemporânea


Transição complexa vivia o ser humano na alta Idade Média. Batalhas arraigadas e confrontais como as contemporâneas; racionalidade versus irracionalidade. Contrários de opostos; ponderável e imponderável, luminosidade e obscurantismo, cognoscível e incognoscível, imanência e transcendência.
A sabedoria nos aponta, hoje, observar à distância quando impossíveis interferências conciliadoras e efetivas. O Homem, espécie, perdeu a direção? O sistema sócio-político-econômico-financeiro-jurídico-religioso-artístico perdeu o rumo?
Não é o fim da História, mas fim de um ciclo, fim de normas e comandos desgastados e inviáveis num mundo que explodiu fantasticamente com os avanços industriais e tecnológicos. Vivemos a falência do pensamento unilateral, o declínio da cultura. A perplexidade diante de um mundo sem clareza intelectual, perdida em seus valores éticos e morais.
O mundo natural, Mãe Gaia, clama no deserto os graves riscos de posturas fundamentalistas, excludentes sem oportunidades para todos, igualitariamente. Há espaço e possibilidades para todos habitantes do Planeta Terra, não existe é interesse e vontade generosa de acordo com as distribuições das riquezas naturais. Uma Casa feliz é aquela em que todos estão protegidos, alimentados, acolhidos em suas potencialidades inatas, criativas.
Povos da Terra, bípedes pelados, sejamos todos solidários. Radicalmente solidários.
Dizia Albert Schweitzer: “somos chamados a viver; nossa vocação fundamental é viver”. A espécie humana, longe de ser profunda em suas reflexões e ações efetivas para o bem comum, não apreendeu que o simples é a verdadeira beleza da felicidade. A mais elevada e nobre finalidade do ser humano é ser humano.
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Chateau d’Angers (Maime-et-Loire) Tapeçaria Apocalipse Nicolas Bataille 1375 à 1380 depois dos cartões de Hennequin de Bruges
   – Invasão dos cavaleiros do Inferno e Luta com o Dragão

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Queridos leitores, amigos e amigas


Ando tão repleta de afazeres que não tenho como chegar aqui neste Blog em novas formatações, novidades que pouco entendo. Daí sem novos artigos e acenos. Não sou dada à internet, usualmente.
Não estou adormecida num castelo encantado. Atenta acompanhando os noticiários do mundo.
Faço minha meditação silenciosa, durmo tranquila, tomo um bom café, caminho à luz de Dr. Sol, desenho, contemplo a beleza da natureza, cuido das minhas plantas na sacada da janela, acompanho doentes mentais, converso com amigos criativos, por vezes vou ao cinema e ouvir música, exposições e boas conferências. Atendo meus clientes de Astrologia. Leio muito, por ser uma paixão. Cuido da casa e de minha sábia gata Preta.
Não se ocupando com idiotices, conversas ocas, pensamentos insólitos, há tempo para milhões de coisas preciosas na nossa vida cotidiana e sobra tempo para o nada; experiência interna.
Vivemos no relativo, num mundo em turbulências e transição profunda, mas não podemos esquecer que somos, também, no obsoluto, somos o infinito, somos o que imaginamos. Somos transcendestes.
Atenção
O GRUPO DE ESTUDOS C. G. JUNG
Convida a todos para assistir o DVD
Fernado Diniz

Filme de Leon Hirszman

Dia 25 quarta-feira às 19h.

CASA DAS PALMEIRAS

Local: Rua Sorocaba, 800 – Botafogo.

Inf.: Tel. 2266-6465 (das 13h às 17h) /(2242-9341)

*O grupo está aberto/gratuito ao público em geral *

domingo, 8 de abril de 2012

Cristo Ressuscitou, Aleluia !

"Surrexit, non est hic"quadro de Axel Ender -1871

"A fé na ressurreição pode e deve transformar nossa vida aqui e agora: o engajamento incondicional nessa vida única, aqui e agora, pode e deve ser motivado e confortado por um senso último da vida e da morte, como testemunham incontáveis exemplos. E, no entanto, a fé na ressurreição não se reduz a uma simples interiorização existencial ou a uma transformação social, mas ela é uma radicalização da fé no Deus criador: a ressurreição significa a vitória real sobre a morte, vitória que devemos a Deus, de quem o fiel espera tudo, aí compreendida a realidade última, a vitória sobre a morte. O fim que é um novo começo! Aquele que começa seu Credo afirmando sua fé em Deus, "o Criador todo-poderoso" pode, portanto, concluí-lo tranquilamente afirmando sua fé na "vida eterna", que é o próprio Deus. Pois assim como Deus é o Alfa, é também o Ômega! O Criador todo-poderoso, que convida do nada ao ser, pode convidar, também, à vida após a morte”.
Hans Küng, Credo – La Confession de Foi des Apôtres Expliquée aux Hommes D'Aujourd'Hui. Éditions du Seuil, Paris, 1996.

Fonte / Blog do Círculo Gregório de Nissa
http://gnissa.blogspot.com/
Ler - Apocalipse: apóstolo João 1, 8 ______

sexta-feira, 6 de abril de 2012

A grande metáfora

Leonardo Boff – teólogo/filósofo (escrito - sexta-feira Santa de 2006)
Para os cristãos a Semana Santa é a grande semana em que se celebra a vida, a morte e a ressurreição de Jesus. Esses três fatos são momentos de um único processo, chamado de "mistério pascal", mistério da passagem (páscoa na linguagem bíblica) da vida para a morte e da morte para a ressurreição. Ou então da passagem do cativeiro egípcio para a libertação do povo no deserto e para a conquista da terra da promissão.
Hegel quando jovem estudante de teologia em Tübingen (foi primeiramente teólogo bem como Heidegger) em seu Stift (seminário) teve durante a sexta-feira santa uma iluminação que modificou toda sua vida e que está na raiz de sua filosofia. Chama a esta sexta-feira de "sexta-feira santa teórica". Viu a unidade do processo da natureza e da história que passa pela vida, pela morte e pela transfiguração bem como no mistério pascal cristão. Chamou a isso de dialética.
Se bem reparamos, a semana santa, para além de seu caráter religioso, representa uma grande metáfora. Tudo no universo, nos processos biológicos, humanos e biográficos se estrutura na forma da dialética. O primeiro momento é a tranquila serenidade e paz infinita daquele pontozinho quase infinito de onde viemos. De repente, sem sabermos por que, ele explode. Produz um incomensurável caos. A evolução do universo significa um processo de criar ordem no caos. Cada ser vivo nasce, se desenvolve, morre e se transfigura no Todo. As sociedades passam por crises. As estrelas-guia já não respondem aos novos desafios. Produz-se um processo de dissolução. Quando se define outra forma de organização social emerge uma nova ordem com um outro sentido de ser. O ser humano vive seu arranjo existencial sereno e tranquilo. Eis que irrompe a crise e tudo se abala. Purifica-se, madura e cria outra ordem vital. Esta por sua vez, lentamente, também se desestabiliza e somente volta à serenidade quando elabora outro sentido de vida ou passa para uma outra dimensão além-morte. Em todo esse processo dialético há a experiência de vida, de morte e de transfiguração; de ordem, desordem e nova ordem; de tese, antítese e síntese. A complexidade segundo E. Morin se estrutura nesta dialética.
Nesta visão dialética a pessoa não foi criada para conhecer um fim na morte, mas para se transfigurar através da morte. Passa, como diriam os alquimistas medievais, por um processo alquímico e entra numa ordem mais alta. Os cristãos chamam a isso de ressurreição. Ela não significa a reanimação de um cadáver, mas a transfiguração completa do ser humano em comunhão com o Ser. É a dialética da semente: "se o grão de trigo, caindo na terra não morrer, ficará só, mas se morrer produzirá muito fruto", como disse o Mestre. Hoje a natureza e a humanidade vivem sob pesada sexta-feira santa ameaçadora. Há devastação e sofrimento em demasia. A via-sacra tem estações sem fim. A nossa esperança é que este padecimento se ordene a uma radiante transformação, a um novo paradigma de convivência onde não seja tão difícil tratarmos os seres da natureza com compaixão e nossos próximos com humanidade e com cuidado. Depois que Cristo ressuscitou após um fragoroso fracasso pessoal não temos mais direito de ficar tristes e de perdermos a esperança. Do caos pode vir sempre vida nova. A história e a saga de Jesus nos oferecem um sinal credível.
Leonardo Boff é autor pela Vozes de Paixão de Cristo-paixão do mundo.